Logística e legislação de entrada de produtos na China é complicada, dizem importadores

Tempo de liberação:2023-10-24
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No dia 19 de Outubro, à margem da abertura da Exposição Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa que decorreu no Venetian, representantes de empresas portuguesas e brasileiras de exportação de bens primários como carne ou cereais falaram ao PONTO FINAL sobre as dificuldades com se deparam na entrada no mercado chinês. Nilo Santiago, consultor internacional de negócios do Instituto Jovem Exportador do Brasil na área dos “alimentos, bebidas e serviços”, que já colabora com o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) há seis anos, louvou o profissionalismo do instituto. “O IPIM sempre nos ajudou. Tem-nos atendido de forma profissional, e têm-nos dado esclarecimentos sobre as regras”. Quanto à participação na exposição, o responsável mostrou-se confiante de vir a Macau, porque a cidade está a “abrir portas” para as 20 empresas que Nilo Santiago representa, e que pretendem entrar no mercado chinês e de Macau com grãos, pimentas, doces, café, mas também com o açaí, “que actualmente é procurado pelo mundo inteiro”.


O importador de bebidas e alimentos provindos da Amazónia trouxe consigo também novidades quanto à importação destes produtos. “A maior dificuldade que hoje temos chama-se logística. É um factor muito importante, e hoje temos oportunidades diferentes no Brasil, saindo por Mato Grosso do Sul: a Rota Bi-Oceânica, que passa pelo Paraguai, pela Argentina, Chile e daí vai para o resto do mundo”. Estreado há cinco meses, o Eixo Transoceânico, também conhecido como Rota do Pacífico, é uma ligação rodoviária que atravessa a floresta amazónica e a cordilheira dos Andes até chegar ao litoral peruano, algo que Nilo Santiago revela que “encurta o tempo de viagem dos produtos até à China, e também reduz bastante o preço da logística”.  O consultor, que esteve presente na inauguração dessa rota, diz que está agora a trazer esta novidade para o IPIM “para que possa divulgar esta informação de novas oportunidades de negócio com outras empresas, para reduzir a logística do Brasil para o mundo”. Salientando que o Mato Grosso do Sul é o “maior celeiro de bens primários do Brasil, e possivelmente do mundo”, fica agora por acertar a forma como esta rede de fornecimento de grande peso irá entrar na China, processo que Nilo Santiago espera que o IPIM agilize. “Vamos envolver o IPIM nessa relação para ajudar a tratar, e fazer as estratégias mais adequadas para que isto possa de facto acontecer”.


Numa dimensão mais reduzida, mas não menos relevante, a Authentic Foods, a última aposta da CESL ASIA de António Trindade, pretende entrar no mercado da China e de Macau com produtos alimentares portugueses “premium” e sustentáveis, algo que o representante diz estar “na ordem do dia em todo o lado, não só por causa do impacto ambiental”, da “qualidade de vida das pessoas”, mas também por questões económicas, já que, a seu ver, “um produto sustentável é um produto de muito maior valor”. Embora esta nova marca recentemente criada em conjunto com vários produtores lusitanos tenha um futuro promissor, esbarra com dificuldades à entrada no mercado chinês, “porque não há licenças, porque há muitas coisas que se metem no caminho”, desabafou António Trindade. O responsável confessou não compreender porque é que alguns produtos portugueses como o carneiro ou a vaca não se podem vender na China, algo que diz ser “uma pena, porque Portugal vende para outros sítios, e devia também estar a vender para China”. Do lado português existem também ainda obstáculos logísticos para serem ultrapassados. “Por exemplo, não existe uma rede directa de exportação entre Portugal e a China. Tem de se ir a Madrid, porque o aeroporto em Lisboa está saturado. A logística é um grande problema, e faltam infraestruturas”, lamentou.